Um dia ruim é o que separa a civilidade da
barbárie. Em Relatos Selvagens, novo filme argentino de Damián Szifron, somos
apresentados a um dia ruim de seis pessoas diferentes. Os personagens
extremamente caricaturados representam as emoções mais animalescas e mesquinhas
do ser humano, por exemplo, ira, ganância e a sede por vingança. Abordando diferentes
aspectos da vida humana como a vida amorosa e o trabalho e a carreira, o filme
nos mostra nossas vontades suprimidas e atitudes, improváveis, porém
plausíveis. Uma excelente crítica a vida recatada que somos obrigados a levar e
as consequências da supressão de nossa natureza.
O filme me lembrou um pouco Um Dia de Fúria, porém
enquanto a obra estrelada por Michael Douglas critica muito mais o sistema e a
política, Relatos Selvagens se foca muito mais no pessoal do que no coletivo.
Tirando o conto estrelado por Tony Ramos argentino Ricardo Darín, que faz uma dura crítica a burocracia
e ao abuso que nós, países subdesenvolvidos, sofremos do Estado, as histórias
retratam acontecimentos mais cotidianos, como uma briga de trânsito.
O humor ácido e brutal tem um quê de
“tarantinesco”. Principalmente o primeiro conto, que transforma um cenário
comum, um voo de avião, em uma situação absurda, sádica e muito engraçada. A
terceira narrativa também se destaca pela violência e pelas piadas que trazem
ao rosto aquele sorrisinho malvado no canto da boca, também muito semelhante ao
estilo de Tarantino.
Mas deixando de lado o fato de ser quase uma produção
Hollywoodiana, Relatos Selvagens nos trás outra discussão importante:
por que o cinema brasileiro não tem tanto prestígio (principalmente dentro de
nosso próprio país), apesar de, inegavelmente, ter qualidade? A resposta é
simples. Ou os filmes nacionais são lixo, ou são muito complexos e complicados,
salvo exceções como Tropa de Elite e Cidade de Deus. O que falta ao cinema
brasileiro são filmes como Relatos Selvagens, muito bons, porém simples e que
atinjam um público maior; sabemos muito bem que para se tornar um título
obrigatório para qualquer cinéfilo, um filme não precisa apenas tratar da
psique humana através de metáforas e alegorias.
A fotografia é sempre muito competente, transmitindo o espírito de cada conto. A trilha-sonora apesar de não ser memorável como um Senhor dos Anéis se adéqua muito bem, principalmente na última cena da última narrativa. Outra coisa que me chamou a atenção tanto pela simplicidade quanto pela minha obsessão foram os créditos iniciais, basicamente fotos de vários animais selvagens.
Quero assistir.
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