sábado, 24 de outubro de 2015

Sadismo, violência e uns relatos selvagens




Um dia ruim é o que separa a civilidade da barbárie. Em Relatos Selvagens, novo filme argentino de Damián Szifron, somos apresentados a um dia ruim de seis pessoas diferentes. Os personagens extremamente caricaturados representam as emoções mais animalescas e mesquinhas do ser humano, por exemplo, ira, ganância e a sede por vingança. Abordando diferentes aspectos da vida humana como a vida amorosa e o trabalho e a carreira, o filme nos mostra nossas vontades suprimidas e atitudes, improváveis, porém plausíveis. Uma excelente crítica a vida recatada que somos obrigados a levar e as consequências da supressão de nossa natureza.

O filme me lembrou um pouco Um Dia de Fúria, porém enquanto a obra estrelada por Michael Douglas critica muito mais o sistema e a política, Relatos Selvagens se foca muito mais no pessoal do que no coletivo. Tirando o conto estrelado por Tony Ramos argentino Ricardo Darín, que faz uma dura crítica a burocracia e ao abuso que nós, países subdesenvolvidos, sofremos do Estado, as histórias retratam acontecimentos mais cotidianos, como uma briga de trânsito.
O humor ácido e brutal tem um quê de “tarantinesco”. Principalmente o primeiro conto, que transforma um cenário comum, um voo de avião, em uma situação absurda, sádica e muito engraçada. A terceira narrativa também se destaca pela violência e pelas piadas que trazem ao rosto aquele sorrisinho malvado no canto da boca, também muito semelhante ao estilo de Tarantino.




Mas deixando de lado o fato de ser quase uma produção Hollywoodiana, Relatos Selvagens nos trás outra discussão importante: por que o cinema brasileiro não tem tanto prestígio (principalmente dentro de nosso próprio país), apesar de, inegavelmente, ter qualidade? A resposta é simples. Ou os filmes nacionais são lixo, ou são muito complexos e complicados, salvo exceções como Tropa de Elite e Cidade de Deus. O que falta ao cinema brasileiro são filmes como Relatos Selvagens, muito bons, porém simples e que atinjam um público maior; sabemos muito bem que para se tornar um título obrigatório para qualquer cinéfilo, um filme não precisa apenas tratar da psique humana através de metáforas e alegorias.
A fotografia é sempre muito competente, transmitindo o espírito de cada conto. A trilha-sonora apesar de não ser memorável como um Senhor dos Anéis se adéqua muito bem, principalmente na última cena da última narrativa. Outra coisa que me chamou a atenção tanto pela simplicidade quanto pela minha obsessão foram os créditos iniciais, basicamente fotos de vários animais selvagens. 
Relatos Selvagens é um filme simples, porém que beira ao genial (pelo menos em metade de seus episódios) e que já se tornou um forte candidato a clássico do cinema mundial. Sugiro, também, que esperem um remake americano para daqui alguns anos, assim como aconteceu com Oldboy e Os Infiltrados.



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