quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Um ator, um plano sequência e um Homem-Pássaro



Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância, foi o filme de maior visibilidade do diretor Alejandro Iñárritu e vencedor de quatro Oscar, entre eles Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Filme. Famoso pela técnica de plano-sequência e pela fotografia impecável, com cores vivas que marcam o tom de ironia no filme, e que garantiu também o Oscar de Melhor Fotografia. O filme rapidamente se tornou um novo cult e catapultou Iñárritu como o favorito de muitos.

Contando a história de um ator que conheceu a fama com filmes block-buster do super-herói Birdman e que agora busca o prestígio, não do grande público como outrora, mas dos críticos e da arte (através do teatro), o filme se relaciona intimamente com a história do ator principal, Michael Keaton, que viveu seu auge nos anos '80 com o Batman de Tim Burton. fazendo esse paralelo com a história do próprio Keaton o filme traça um constante crítica ao cinema block-buster, atualmente representado pelos filmes de super-herói, e ao papel do crítico formador de opinião.

Os aspectos técnicos do filme são esplendidos, a direção é primorosa, a fotografia é lindíssima tendo a iluminação branca, avermelhada e azulada como predominantes. O plano sequência é extremamente bem trabalhado e a edição não é menos do que orgásmica, com os cortes praticamente inidentificáveis. Obviamente os prêmios de Melhor Fotografia e Melhor Direção foram bem merecidos (apesar de Grand Hotel Budapeste e Boyhood terem sido grandes concorrentes respectivamente).






Já as premiações de Melhor Filme e, principalmente, Melhor Roteiro não são bem assim. A discussão sobre o papel do crítico, que se relaciona com o segundo título do filme (a felicidade de apreciar as coisas sem o olhar crítico que te deixa desgraçado da cabeça ciente dos defeitos do mundo), é muito bem articulada e permeia todo o filme, assim como a crítica ao cinema block-buster. O personagem também vive no limiar entre a realidade e um mundo imaginário criado pelas suas memórias do Birdman, o que pode ser uma outra interpretação para a Inesperada Virtude da Ignorância. Porém a falta de um roteiro original é mascarada pelo deslumbramento inicial do espectador ante a trilha sonora belíssima, fotografia premiada e direção extremamente competente. Não é algo novo a história a La Conde de Monte Cristo, um personagem renasce e busca voltar ao topo (ou vingança, obviamente). A relação pai e filha também é explorada no filme, mas tem tão pouco tempo de tela que acaba sendo pouco mais que esquecível. O tratamento que a obra dá à ambição do personagem e a pressão que o mesmo sofre se relaciona bem com o tom de humor negro, porém acaba deixando o gostinho de "quero mais", ou mais precisamente, "o filme deveria ter se focado mais nisso". Porém tudo isso perde espaço para as críticas e discussões que o filme propõe.





Apesar de bem articulado, o papel do crítico e do formador de opinião já foi posto em cheque em infinitos filmes (inclusive Ratatouille) e não apresenta nada de novo, enquanto a polêmica dos filmes block-buster (também nada muito novo) tem um problema ainda maior: a prepotência com que é tratada. Não importa se você gosta ou não de filmes pipocas, eles fazem parte da história do cinema! Filmes que foram avacalhados pela crítica e pelos grandes artistas (que Iñárritu obviamente se julga fazer parte) por serem filme que visavam ao lucro, são hoje clássicos da história do cinema! E que tem aprovações até maiores que A Inesperada Virtude da Metidez. Filmes como Star Wars, Jaws, ET, Matrix, e até filmes mais antigos como Quanto Mais Quente Melhor, mudaram o modo de se fazer filme e o modo de encarar o cinema, pois querendo ou não, o principal objetivo de um filme é lucrar, independente de quão artístico este seja. A prepotência com que Iñarritu trata os filmes pipoca, que querendo ou não popularizaram o cinema que ele tanto ama, chega a incomodar. Não que eu ache que os filmes da Marvel vão entrar para a história do cinema, assim como não acho que seu filme "inovador" vá, mas eles merecem respeito. Será que um filme é tão ruim só por ter a capacidade de fazer o espectador se desligar  completamente de seus problemas e de sua realidade? Entendam bem, não estou defendendo os filmes block-buster, é inegável que a indústria tem se tornado saturada, mas a indústria se ajeita sozinha. Os filmes de western passaram. Os filmes de super-herói também passarão. No final das contas toda a crítica feita aos filmes pipoca se assemelha muito mais a uma birra infantil por parte de um diretor que se considera superior, mas que julga não receber a mesma atenção que filmes inegavelmente inferiores como Vingadores, do que uma crítica realmente destinada à reflexão.

Birdman apresenta uma técnica incomum, porém belíssima, além de uma direção, fotografia e edição inpecáveis, ainda que não inovadora (filmes como Festim Diabólico já apresentavam o plano-sequência) . Entretanto o roteiro pouco ousado e as críticas que não saem do lugar comum (e ainda adquirem um caráter meio "vou xingar muito no Twitter") tornam improvável a entrada do filme para as páginas da história, o mantendo na grande galerias de filmes cult que tiveram seus quinze minutos de glória.




Uma crítica um tanto mamilos leitoras e leitores, mas prometi que ainda faria uma crítica completa de Birdman, e aqui está! Já assistiu o filme? Discorda comigo (muito provavelmente) ou concorda? Não se esqueça de compartilhar com os amigos e de curtir a gloriosa página do Facebook!

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